Sabe-se que se tratando de tragédias ou crises humanitárias, o emocional das pessoas fica muito mexido. As incertezas, a falta de previsibilidade para planejar o futuro, o adiamento dos sonhos ou objetivos de vida, ficaram suspensos. Em adicional, ainda vem o medo de contrair um vírus que pouco se sabe sobre ele, pois ainda está em fase de estudos científicos. Além disso, vem o medo de perder os entes queridos.
Assim é a rotina das pessoas com o advento do Covid-19: estresse, medo e insegurança. Essa combinação pode aumentar os níveis de ansiedade e é mais do que esperado que ocorra situações em que há um cenário imprevisível.
Mas será que o aumento dos índices da ansiedade só surgiu agora, com o advento do Covid-19? A resposta seria não, pois há muito tempo as pessoas já vinham sofrendo pressões no cotidiano laboral, familiar, educacional. Claro que se uma pessoa já tem predisposição genética ou ambiental para desencadear algum transtorno mental, a exposição excessiva e intensa aos gatilhos pode aumentar as chances de que determinado transtorno se flore ou piore.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já era o país mais ansioso do cenário mundial antes do Covid 19, e já apontava ser o maior índice de depressão na América Latina. Isso evidencia o quão importante é prevenir o adoecimento psíquico. Para tal, é preciso haver uma união entre os governos e as mídias para alertar sobre as necessidades de se buscar acompanhamento psicológico ao perceber alterações importantes no humor, no apetite, no sono, e nas relações sociais, afetando o seu rendimento e funcionamento no seu cotidiano.
Porém, apenas informar a população não é o bastante. É preciso haver mais incentivos para que as pessoas tenham mais acesso aos tratamentos com evidências científicas realizados por profissionais qualificados, tais como psicólogos e psiquiatras, para traçar tratamentos eficazes para os transtornos e distúrbios mentais. Por exemplo, ao passar por um luto, a depender da estrutura psíquica e da rede de apoio disponível a esse indivíduo, ele pode passar a se manter por muito mais tempo na melancolia profunda. E sem saber que precisa receber um tratamento adequado para o seu quadro, tenderá a agravar mais ainda a sua saúde mental, sendo que se tivesse buscado suporte profissional logo no início da percepção de que a sua vida estava impactada, conseguiria reverter as consequências trazidas pelo luto complicado com mais rapidez.
Então, no cenário atual, com a retomada lenta da economia, o medo de ser contaminado pelo vírus, ou que algum ente querido se contamine, estresse no trabalho, burnout, problemas políticos e sociais etc., é possível ver um aumento acentuado no que já existia se tratando de ansiedade e depressão. A pandemia veio para ensinar que quando não há prioridade para a saúde mental, todo o resto desaba, pois tudo passa por ela, inclusive, quando a pessoa está mais estressada, há grande chance de que a sua imunidade se reduza, abrindo portas para doenças e vírus oportunistas.
Por estes e outros motivos, é importante manter hábitos saudáveis na rotina e cuidar para que não deixe de fazer exercícios físicos, ter atividades de lazer, se alimentar de forma nutritiva, dormir bem, evitar pessoas tóxicas etc.
Dalila Castro
Psicóloga
CRP 03/13169